Review | Cobra Kai – 5ª Temporada (Netflix)

Está na hora de renovar a fórmula, Sensei!

Quem já teve o prazer de atingir a vida adulta e morar sozinho, sabe que um item quase onipresente em certas etapas da vida é o popular macarrão instantâneo. Isso mesmo: aquele que, em três minutos na água fervendo, já vai direto para o prato de milhares de estudantes, trabalhadores e cidadãos exaustos desse meu Brasil.

Todo “apreciador” desse alimento sabe o que o aguarda ao abrir um pacotinho. Velocidade, praticidade no preparo, e aquele quentinho de saber que, mesmo sabendo que se trata de algo de qualidade questionável, a sua fome vai ter o que ela merece em breve – sem falar naquele gostinho de infância, de tempos mais simples. No fim, a gente não pode negar que gosta de tudo disso.

É mais ou menos dessa forma que me sinto com relação a Cobra Kai, seriado que nasceu no falecido Youtube Red e foi abraçado pela Netflix. E nesta quinta temporada, nada desse sentimento mudou – aliás, muita coisa não mudou, literalmente.

Relações construídas na pancada

Dando continuidade ao que vimos anteriormente, acompanhamos os acontecimentos que se dão após a derrota do Miyagi-Do no torneio de caratê, e a consequente vitória do Cobra Kai. Com isso, o dojo liderado pelo vilanesco Terry Silver (Thomas Ian Griffitth) começa a crescer desenfreadamente, enquanto um plano ainda maior se desenrola – dominar o vale já não é mais suficiente.

Paralelo a isso, temos a (curtíssima e inútil) jornada de Miguel (Xolo Maridueña) em busca de seu pai no México, com Johnny (William Zabka) e Robby (Tanner Buchanan) partindo em seu resgate, numa jornada que deveria apaziguar o clima entre os três – o que acontece após uma cena de pancadaria deveras bacana.

De outro lado, Daniel LaRusso (Ralph Macchio) lida com as consequências da derrota, enquanto busca uma forma de parar Silver em conjunto do amigo vindo do Japão, Chozen (Yuji Okumoto – um dos melhores da temporada), e tenta manter as relações familiares equilibradas.

Resolver na conversa? Que nada, bora cair na porrada para exorcizar alguns demônios e afogar mágoas. Mas vale dizer: essa temporada tem as melhores cenas de porradaria de toda série – o que não é grande coisa, visto que na grande maioria dos anos passados, algumas cenas lembravam os Trapalhões se estapeando com móveis de isopor.

Dia da marmota na sala de roteiros

Lembra quando lá na primeira temporada havia aqueles conflitos sobre caratê, o dilema de evitar conflitos, o embate entre gerações novas e antigas? Pois é, tudo isso se repetiu em todas as temporadas até hoje, e esta aqui não é exceção.

Por mais que, por um lado, a série nunca tenha se levado a sério e tenha se assumido definitivamente como um produto novelesco de entretenimento, galgado na nostalgia de diversos flashbacks e retornos de personagens da franquia, por outro esse acaba sendo um recurso hiper utilizado.

Aliás, toda ideia que a série tem é reciclada ad infinitum.

Sempre tem um personagem questionando se vale a pena dedicar a vida ao caratê. Sempre tem uma relação familiar em risco, por conta do caratê. Sempre tem um bullie e alguém sofrendo, por conta do caratê. Sempre tem o Daniel se questionando, e voltando a estaca zero com os ensinamentos do mestre Miyagi. Sempre tem o Johnny… bom, esse parece ser o único personagem que tem uma linha de crescimento existente e respeitada pelos roteiristas.

Aliás, falando em personagens, a maioria não sai do ponto em que estava na temporada anterior. Pouca coisa vai adiante, presa nesse eterno looping que se inicia e termina dentro de cada ano da série.

Claro, ainda tem muita coisa interessante: Terry Silver é um vilão muito bom para a proposta da série. Samantha LaRusso (Mary Mouser) e Johnny Lawrence são interpretados de forma bastante digna, e os jovens não comprometem tanto quanto antes.

“Lá vou eu escorregar outra vez…”

Tem uma piada sobre um cara bem desligado, que sempre que pisa em uma casca de banana, escorrega. Um dia, caminhando na rua com um amigo, é informado de que ali na frente tem uma casca de banana no chão. Ao invés de se preparar para evitar um acidente, ele se lamenta com um “poxa vida, lá vou eu escorregar outra vez”.

Eu vejo o anúncio de uma nova temporada de Cobra Kai, acompanho os trailers, assisto os primeiros episódios, e reajo da exata mesma maneira. Lá vou eu escorregar novamente.

Seja por conta do fortíssimo elemento nostálgico, de alguns personagens extremamente carismáticos, algo ainda me faz sempre cair por Cobra Kai. Só que essa fórmula já está desgastada, e eu não vou continuar escorregando por muito tempo.

As pequenas adições a temporada, como ótimo personagem Chosen, o sempre bem-vindo holofote ao personagem do igualmente ótimo Johnny Lawrence, o tom mais sério e sombrio em alguns momentos ainda não foram suficientes para essa lufada de ar fresco que o seriado precisa.

De fato, talvez nem seja mais a intenção dos showrunners renovarem toda essa fórmula “drama + vou desistir do caratê + reviravolta + briga e faz as pazes”. Só que, uma hora, mesmo o mais desligado espectador vai cansar de tanto escorregar. E essa hora me parece já ter chegado – e a reviravolta/cliffhanger no final da temporada só comprova tudo isso.

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