Review | True Detective: Terra Noturna

A primeira temporada da série antológica True Detective, em 2014, foi um estrondo, consagrando o showrunner Nic Pizzolatto (The Killing, no Star+) e colocando no mapa o diretor Cary Joji Fukunaga (007 – Sem Tempo para Morrer, no Prime Video).

A fórmula de uma história cheia de mistério e panos de fundos sórdidos, encabeçada por estrelas cinematográficas como Matthew McConaughey e Woody Harrelson, parecia uma receita de sucesso certa. Só que não. As duas temporada seguintes, protagonizadas por Colin Farrell e Rachel McAdams (2015); e Maharshala Ali (2019) se não eram ruins, estavam longe do nível alcançado pela temporada inicial.

Agora, em True Detective: Terra Noturna, a cineasta mexicana Isa Lopez (Britannia, no Star+) escreveu e dirigiu todos os seis episódios. Foi uma aposta de quebrar a banca: a temporada foi a mais vista na história da HBO, com média de quase 13 milhões de espectadores, superando hits como Succession e The White Lotus.

Se havia uma lenda do cinema como protagonista, Jodie Foster – duas vezes vencedora do Oscar de Melhor Atriz – , a seu lado estava uma intérprete mais conhecida pela passagem pelos ringues (ex-campeã mundial em duas categorias de boxe) que pelos sets, Kali Reis (e, caceta, ela se sai muito bem!).

A ação se passa no Alasca (mas filmado na Islândia, por falta de estradas no estado americano), durante a longa noite de inverno (entre dois e três meses sem sol) numa cidadezinha cuja economia depende de uma mineradora acusada de poluir o meio ambiente, em cuja vizinhança existe uma estação de pesquisa.

Quando sete dos cientistas são encontrados mortos, congelados e nus, a chefe de polícia Liz Danvers (Foster) percebe que está diante de um crime fora do normal, enquanto sua ex-parceira e atual patrulheira estadual, Evangeline Navarro (Reis), quer ligar o caso a um assassinato que a obceca há anos.

Ressentimentos

As duas policiais carregam ressentimentos mútuos, ao mesmo tempo que lidam com traumas anteriores que afetam suas relações pessoais e profissionais. Entre os personagens coadjuvantes, destacam-se o jovem oficial Peter Prior (Finn Bennet, de Domina, da HBO Max), que faz tudo que a chefe Denvers manda, à custa de seu casamento; seu pai Hank (John Hawks, de Deadwood, HBO Max), um tira solitário que se julga preterido nas promoções; e a misteriosa Rose (a sempre competente Fiona Shaw, de Killing Eve) que mora sozinha no meio do nada e é quem encontra os cadáveres congelados.

A trama se desenrola em meio a disputas entre a comunidade, que assiste uma crescente mortalidade infantil provocada pela água contaminada, e o domínio econômico da mineradora que é a maior – e única – empregadora da cidade. À medida que o mistério ganha aspectos sobrenaturais, Denvers se recusa a trilhar por esse caminho, mesmo que ela mesmo testemunhe visões entre a paranormalidade e a alucinação.

O roteiro é cheio de subentendidos, sutilezas e mistérios deixados à interpretação do espectador, valorizado pela direção de Lopez (que certamente vai ganhar novos trabalhos de peso) e atuações seguras, em que Jodie Foster brilha em sua estreia em séries televisivas e retornando a um papel de agente da lei desde O Silêncio dos Inocentes.

Jodie não desperdiça a chance de construir um personagem por mais tempo que em um longa-metragem, dando camadas e tridimensionalidade à sua problemática chefe de polícia.

Encerrado no domingo, 18 de fevereiro, True Detective: Terra Noturna manteve a tradição da HBO de fazer do domingo, às 23h, o horário de suas produções mais nobres.

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