Review | Big Little Lies

Big Little Lies apresenta várias grifes de sucesso: tem o já conhecido padrão de qualidade HBO, o livro elogiado de Liane Moriarty, o renomado diretor Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas, Livre e Demolição), o habilidoso roteirista David E. Kelley (Ally McBeal, Chicago Hope e The Practice) e um elenco estelar que inclui as oscarizadas Reese Witherspoon (Johnny e June) e Nicole Kidman (As Horas), além de trazer outras atrizes conhecidas como Shailene Woodley (A Culpa é das Estrelas) e Laura Dern (Livre). Com estes elementos combinados, essa nova minissérie torna-se obrigatória para os aficionados por um bom drama maduro e contundente, que sabe dialogar diretamente com o comportamento humano na atualidade.

Big Little Lies é baseada no livro homônimo de enorme sucesso de Liane Moriarty lançado em 2014 (no Brasil, o livro foi lançado pela Intrínseca sob o título Pequenas Grandes Mentiras). O romance aborda os segredos obscuros das aparentes vidas perfeitas de várias famílias da Califórnia que são abaladas por um inesperado crime.

Nas mãos de Vallée, a contundência dos acontecimentos relatados no livro ganham forma e sensibilidade. No comando dos sete episódios, o diretor garante o clima necessário de tensão e mistério, conseguindo assim fazer com que a atenção e a expectativa sobre os eventos futuros sejam mantidos. Da mesma forma, o diretor aborda com grande ênfase os sentimentos dos personagens sem esquecer-se de tratar com o devido respeito temas árduos, trazendo à tona discussões bem pertinentes. O texto de Kelley suga toda a essência da obra, apesar de se arriscar em algumas mudanças que deixam a trama com uma cara mais de novela, mas que no final se justificam. As intrigas são um prato cheio presentes em diálogos afiados e explosivos.

A minissérie acompanha a amizade de três mães, cujos filhos pequenos estudam numa escola privilegiada em Monterey, na Califórnia. Madeline (Reese Witherspoon) é controladora, incomodada com a aproximação da filha mais velha com a nova família do ex-marido. Já Celeste (Nicole Kidman) esconde um grande segredo por trás de seu casamento tido por muitos como perfeito. Por fim, a mãe solteira Jane (Shailene Woodley) acaba de se mudar para cidade, a fim de superar um passado sombrio e logo descobre que a convivência num novo lugar não será tranquila. Tudo isso e ainda soma-se o olhar curioso e maldoso de outros moradores, pais e testemunhas que sempre tem algum comentário para fazer sobre um determinado lugar ou uma determinada pessoa.

Logo no primeiro capítulo, somos apresentados às intrigas familiares das três protagonistas, bem como aos dramas escolares de seus filhos, que servem para desencadear os primeiros desentendimentos entre as personagens. A trama fragmentada avisa que alguém morreu e os flashbacks servirão para a construção e resolução do mistério.

Com direção e textos corretos, a minissérie apresenta também atores bem escalados e em harmonia. O tom de cinismo acompanha todos em cena. Reese Witherspoon – também produtora – consegue ser ao mesmo tempo amável e desprezível. Laura Dern – num personagem menor – também consegue despertar os mais diversos sentimentos em quem assiste. Shailene Woodley explora bem os dotes dramáticos. No lado masculino, Alexander Skarsgård é a personificação perfeita do sujeito passional e assustador. As crianças também se destacam.

Diante do elenco estrelado, Nicole Kidman surge plena, sendo capaz de sensibilizar com a mesma intensidade com que provoca o público com suas escolhas em cena. A trama abusiva envolvendo sua personagem ganha contornos de terror na medida em que os episódios avançam. A personagem permite que Nicole explore todas as nuances e entregue a performance mais complexa e elaborada da série. Com ótimos desempenhos, o elenco provavelmente será lembrado nas premiações dedicadas à televisão.

Mesmo com uma trama tão intensa e bem amarrada, alguns seguimentos parecem mal resolvidos ou deixam a sensação de que poderiam ser mais bem explorados. Mesmo assim, Big Little Lies funciona como uma história com começo, meio e fim e acaba sendo mais uma produção caprichada entregue pela HBO, que mais uma vez soube escolher a história certa para ser contada num momento oportuno, gerando discussão e repercussão.

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