Review | Entre Facas e Segredos

Rian Johnson é um diretor de carreira ainda curta no cinema – são cinco longas desde 2005 -, e mesmo nessa brevidade ele pode se orgulhar de alguns feitos que o deixam em um patamar, no mínimo, favorável. Além de ter dirigido dois dos episódios mais bem avaliados de uma das séries mais aclamadas dos últimos anos (Fly e Ozymandias, de Breaking Bad), esteve na boca do povo após o divisivo Star Wars: Os Últimos Jedi, que agradou uma parcela da audiência pela maneira ousada com que abordou os jedi, mas também acendeu o ódio em outros – incluso este que vos escreve – por descontinuar o episódio 7 e desrespeitar o cânone.

De qualquer forma, percebe-se que Johnson é um diretor que tem coragem e que inflama as audiências. Tanto que Entre Facas e Segredos ainda nem chegou direito no Brasil, mas já figura em diversas listas de melhores do ano em sites e revistas especializados. De minha parte não discordo, é um bom passatempo.

Após estrear nos cinemas em uma homenagem ao noir com A Ponta de Um Crime (2005), em seguida na aventura cômica Vigaristas (2008), passar pelo sci-fi em Looper: Assassinos do Futuro (2012) e se enveredar na fantasia intergalática em seu Star Wars (2017), agora o cinéfilo assumido Rian Johnson embarca, e nos leva junto, em um whodunnit à moda antiga – muitos personagens e reviravoltas, uma mansão de muitos cômodos e passagens secretas, uma vítima, um detetive perspicaz e muitos possíveis assassinos – e sua maior virtude nesta trama rocambolesca é se valer do atual cenário sócio-político norte-americano da luta de classes – nem tão restrito às Américas assim, já que Parasita, representante da Coréia do Sul ao Oscar de filme internacional, também se debruça sobre o tema.

Policial

Na história, Harlan Thrombey (Christopher Plummer) é um famoso escritor de histórias policiais que banca toda uma família, de netos e filhos a noras e genros, graças a seu vasto império literário. Quando é encontrado morto logo após comemorar seus 85 anos de idade, a família se reúne para a divisão da herança, é aí que entra em cena o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), contratado para investigar o caso e que vai descobrindo aos poucos que, entre os funcionários e familiares de Harlan, todos podem ser considerados suspeitos do crime.

Nos moldes de uma história de Agatha Christie – e sendo uma assumida homenagem às obras da autora – desde toda a ambientação rica em detalhes ao detetive Blanc, que emana um ar de Hercule Poirot, Johnson vai além do divertido e engenhoso jogo de trapaças, mesquinharia e mistérios sem se ater a apenas pregar peças no espectador e resolver seu maior mistério ao final. Não demora muito para que ele nos revele a verdade acerca do crime, assim como ele também não perde tempo em nos envolver em outros mistérios logo em seguida, sua trama é cheia de reviravoltas, ou como bem define Blanc “é um donut dentro do buraco de outro donut”. E Johnson se aproveita bem daqueles personagens que têm muito mais segredos do que se imagina, e consequentemente do chamativo elenco encabeçado por Daniel Craig e Ana de Armas, mas que conta ainda com Chris Evans, Jamie Lee Curtis, Michael ShannonDon JohnsonToni Collette, Lakeith StanfieldKatherine Langford, entre outros.

Aos poucos, vamos conhecendo a verdadeira índole de cada um dos Thrombey. Entre estes filhos, genros e netos abonados que herdaram o sobrenome poderoso do pai, sogro e avô, surge a imigrante latina Marta Cabrera (de Armas), apresentada pelos Thrombey como “alguém que faz parte de família”, mas dada sua proximidade com Harlan e sua origem estrangeira – ela era sua enfermeira e cuidadora – ela logo assume um indesejado papel de suspeita aos olhos da família e de vítima aos olhos do espectador, ao mesmo tempo que se torna peça fundamental para Blanc na resolução do mistério. Para Johnson e seu roteiro, ela é uma vítima social.

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