Review | Mulheres Alteradas

Lançados pela primeira vez na década de 90, os quadrinhos da argentina Maitena Burundarena conquistaram o público com sua maneira irreverente de falar de problemas e situações comuns ao cotidiano de quase todas as mulheres. Coube à produtora Andrea Barata Ribeiro adquirir os direitos da HQ, com a missão de levar para a obra para as telonas, junto com o roteirista Caco Galhardo e o diretor Luis Pinheiro.

A adaptação que agora aos cinemas deu trabalho à dupla, tudo por conta da dificuldade em adaptar o material original. A falta de uma narrativa linear levou Galhardo e Pinheiro a buscar recortes disponíveis de várias personagens presentes na obra. Os assuntos variavam entre diversos temas bastante atuais, como trabalho, sexo, independência e amor. A dupla responsável pela missão repete a parceria afiada que apresentou em Lili, a Ex, seriado exibido no canal GNT, e agora em Samantha!, recém-lançada na Netflix. O texto e a direção ágil garantem a diversão.

Diferente de outras comédias nacionais apresentadas recentemente, Mulheres Alteradas não se rende à cartilha de produções do gênero. Sua linguagem é mais cinematográfica e original, sendo bastante fiel ao espírito da obra.

A história acompanha o quarteto de protagonistas em meio às suas crises amorosas, sexuais, profissionais e existenciais. Marinati (Alessandra Negrini) é uma advogada dedicada que não se importa com o amor, mas que não abre mão do sexo. Os seus princípios são questionados quando se envolve num romance com Christian (Daniel Boaventura). Keka (Deborah Secco) vê seu casamento com Dudu (Sérgio Guizé) entrar em crise, e parece que o único jeito de contornar a situação é programando uma viagem. As irmãs Leandra (Maria Casadevall) e Sônia (Monica Iozzi) são totalmente diferentes. Enquanto uma leva uma vida de solteira regada a baladas e sem compromissos, a outra demonstra cansaço na rotina de dona de casa e na criação de seus dois filhos. As duas insatisfeitas com algumas questões decidem inverter os papéis e responsabilidades por uma noite.

A apresentação das personagens já cativa a plateia de forma imediata. O elenco recheado de estrelas conhecidas também ajuda, mas é mesmo na proposta e nas ideias apresentadas que o filme cresce e prende a atenção. A adaptação não perde tempo e sem enrolar já deixa bem claro o papel de cada protagonista e quais serão suas funções na história. O ritmo ágil e a linguagem estética das HQs, garantem o tom sarcástico das tirinhas de Maitena.

O roteiro falha quando escolhe focar nas personagens de Alessandra e Deborah, deixando por um bom tempo esquecidas as personagens de Monica e Maria. Uma pena, já que em cena as duas se saem muito bem como irmãs, demonstrando bastante química e cumplicidade. As descobertas da personagem de Monica são bastante convincentes e emocionantes e o arco envolvendo a personagem merecia ser melhor explorada. O mesmo pode se dizer das questões envolvendo a personagem de Maria, e suas oportunidades de mudar e amadurecer. Com o foco nas personagens de Alessandra e Deborah, o filme assume uma pegada mais leve, sobrando para as duas atrizes se virarem no humor presente no texto. As duas seguram bem as pontas e todas as situações que suas personagens vivem acabam divertindo.

Mulheres Alteradas reflete sobre a mente feminina, retratando vários pontos da vida da mulher, explorando bem cada situação, sem deixar de lado o bom humor. Derrapa algumas vezes quando se rende a algumas situações clichês, mas em sua maioria consegue se manter consistente devido ao respeito e a inteligência dos envolvidos na adaptação. É um filme com identidade própria, que consegue tratar de forma bem respeitosa e divertida questões sempre presentes em nosso cotidiano.

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