Review | Projeto Gemini

Quando lançou Avatar em 2009, James Cameron prometeu revolucionar o 3D. O resultado foi uma das obras mais belas e imersivas dos últimos anos. No Brasil, inclusive, o filme foi o primeiro a ter a projeção 3D em sessões legendadas – até então limitadas às cópias dubladas. Mas não demorou para que o 3D fosse banalizado.

Enquanto Avatar fora pensado e produzido para ser visto como uma experiência 3D, a grande maioria dos filmes que o sucederam – e que ainda insistem nesse formato – na verdade são convertidos em pós-produção. Com isso, perde-se muito da experiência, os ingressos ficam mais caros e o público, quando tem escolha, foge dessas sessões.

Um ano após a estreia de Avatar, Ang Lee já mostrava toda sua técnica inventiva nas cenas de ação em O Tigre e o Dragão – vencedor do Oscar estrangeiro, além dos prêmios de fotografia, direção de arte e trilha sonora. Lee meio que se especializou em histórias com efeitos visuais e sequências de ação arrojadas – em 2003 fez o inconsistente, mas enérgico Hulk, para em 2012 acertar em cheio em As Aventuras de Pi, com o qual levou o seu segundo Oscar de direção, e o filme ainda foi premiado na categoria de efeitos visuais, fotografia e trilha sonora.

O 3D+

Lee não se acomodou e mais uma vez quis dar ao público o máximo da experiência cinematográfica que ele podia realizar – é o que temos para nos contentar, já que Cameron demora tanto para lançar Avatar 2 – e foi com Projeto Gemini que ele foi despertando cada vez mais a curiosidade do público com a promessa de que uma nova tecnologia iria mudar o 3D pra sempre.

Chamada de 3D+, esta tecnologia dá maior nitidez, imersão e profundidade de campo ao espectador, além de maior visibilidade nas sequências de ação, principalmente nas cenas noturnas. O 3D+ nada mais é que a captação em High Frame Rate (HFR). Só para efeitos de comparação: tradicionalmente a taxa de quadros por segundo dos filmes é de 24FPS. Nesta técnica, Lee captou as imagens com uma master a 120FPS, e o filme terá imagens projetadas a 60FPS, ou seja, mais que o dobro da taxa padrão. Vale lembrar que O Hobbit, de Peter Jackson, fora projetado a 48FPS. Mais um avanço para Lee.

Só resta saber se a tecnologia será aproveitada – já que Cameron (de novo ele) promete lançar Avatar 2 em 3D sem a necessidade de óculos. Para alguns, o 60FPS dá o chamado “efeito novela” às imagens, o que não deixa de ser verdade, principalmente nas sequências onde não há ação. Por outro lado, a tecnologia traz maior realismo às explosões, note como a fumaça, faíscas e tiros, até nas sequências noturnas, são muito mais perceptíveis. Esta tecnologia pode ser a salvação do exaustivo e escuro 3D que tomaram os blockbusters nos últimos anos.

Mas as novidades não param por aí. Além da captação diferenciada das imagens, Projeto Gemini tem outra surpresa, que na verdade nem é tão surpresa assim – embora a história tente escondê-la desnecessariamente até certo ponto. Will Smith, aos 51 anos, interpreta Henry Brogan, um assassino de elite que se torna o alvo de um agente misterioso que aparentemente pode prever todos os seus movimentos.

Caso você tenha fugido de qualquer material de promoção do filme poderá ser surpreendido, mas o tal agente é uma versão mais nova de Henry, aos 23 anos. Para criar esse efeito, a equipe de efeitos especiais utilizou imagens de arquivo de Smith para construir este seu “avatar” mais jovial. Sendo assim, em alguns momentos parece mesmo que há dois Smiths em tela, embora em outros momentos o HFR afete o CGI do clone, tornando-o nitidamente falso.

Obviamente, Projeto Gemini é um filme que se vende mais pela tecnologia do que por sua história. O roteiro de David Benioff, Billy Ray e Darren Lemke não está à altura da tecnologia aplicada nas filmagens. Há uma tentativa de gerar uma discussão sobre os limites do homem ao brincar de Deus – no caso, o chefão do Projeto Gemini, interpretado por um canastrão Clive Owen – mas os diálogos são rasos e a motivação do vilão é banal, a tecnologia é ótima para ser desperdiçada num filme escrito de maneira tão preguiçosa. Esse acaba sendo seu maior demérito.

Elenco e tecnologia salvam do desastre

Por outro lado, Smith, Mary Elizabeth Winstead (Aves de Rapina) e Benedict Wong (Doutor Estranho) funcionam muito bem juntos, deixando a história menos intragável de ser acompanhada, o trio parece confortável e há boas doses de humor nos diálogos, principalmente por intermédio de Wong, além deles, dá pra se prender também às sequências de ação, principalmente a que ocorre em Cartagena, quando Smith tem o primeiro embate com sua cópia.

Nesses momentos, a câmera de Lee e a tecnologia 3D+ fazem a diferença, Lee busca diversos ângulos para orquestrar bons minutos de adrenalina, nos colocando até mesmo em primeira pessoa, como num videogame, para sentirmos a tensão do protagonista e de seu rival. É de se segurar na cadeira!

Ao final, dá pra sair da sala dizendo que foi uma experiência realista, divertida e alucinante, mas ao mesmo tempo deixa um gostinho de quero mais, já que a melhor sequência de ação está no primeiro ato do filme e depois perde-se muito tempo batendo na tecla da discussão homem x ciência x deus. O maior problema de Projeto Gemini é o roteiro, já que Lee mostra que continua afiado quando filma ação.

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