Review | O Pintassilgo

O maior problema de O Pintassilgo é depender de 2h30 para contar uma história que, ao final, nos dá a impressão de não passar de um resumo superficial do livro ou até mesmo uma sinopse mais extensa.

O projeto dirigido por John Crowley (Brooklyn) parece moldado para o Oscar, mas carece de sentimento. É uma pena que um longa que deveria funcionar como o coming-of-age de um jovem que perdeu a mãe ainda criança, vítima de um atentando a bomba em um museu, não consiga se impor emocionalmente.

Um atentado terrorista no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, modifica para sempre a vida do jovem Theodore Decker (Oakes Fegley). Além de sua mãe falecer no evento, ele é incentivado por um desconhecido a levar consigo um quadro lá exposto, O Pintassilgo, além de um anel com o brasão de sua família. Nos dias seguintes, Theo recebe o abrigo da Sra. Barbour (Nicole Kidman) e, ao pesquisar sobre o brasão, conhece Hobie (Jeffrey Wright), um vendedor de antiguidades que agora é o tutor de Pippa (Aimee Laurence), filha do homem desconhecido, que também estava no museu no momento do atentado. Tal encontro modifica para sempre a vida do garoto, seja por seu interesse no mercado de antiguidades ou mesmo pela paixão que nutre pela jovem.

Não criamos qualquer tipo de empatia por Theodore, vítima do luto, ambas as fases de sua vida são rasas e equivocadas, pois o roteiro pula de uma para outra sem quaisquer tipo de evolução. As caras conhecidas de Ansel Elgort (Baby Driver), Sarah Paulson (Caixa de Pássaros), Luke Wilson (Rushmore), Jeffrey Wright (Westworld), Nicole Kidman (Big Little Lies) e Finn Wolfhard (Stranger Things) dão a impressão de que o longa tenta, a todo tempo, servir como vitrine para o público e nunca para ilustrar pessoas que foram importantes para Theodore evoluir ou se afundar de vez em seu luto. Talvez apenas Kidman e Wright consigam tal feito, mas ainda assim são arquétipos e têm pouco tempo de tela para maiores emoções.

Todos parecem deslocados e mal aproveitados em um roteiro extenso que não consegue dar conta de desenvolver nenhum deles. O mais interessante é Boris, interpretado na fase infantil pelo ótimo Finn Wolfhard, que chega a arranhar um sotaque russo, mas sua fase adulta perde um pouco da inocência e rebeldia genuína que havia no jovem. Mais uma transformação que não envolve o espectador.

Para a sorte do projeto, Roger Deakins (vencedor do Oscar por Blade Runner 2049) assina a fotografia, fazendo deste um filme bonito de ser visto, ainda mais com a pintura como pano de fundo – algo que também deixa a desejar, faltam maiores referências.

Entretanto, O Pintassilgo acaba sendo um filme difícil de ser admirado como Theodore e sua mãe adoravam fazer com os quadros. A frieza com que tudo é abordado torna o filme exaustivo e Crowley não dá conta de desenvolver tantos personagens, interessantes a princípio, mas cansativos com o desenrolar das 2h30.

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