Review | Maigret e a Jovem Morta (Prime Video)

A maioria talvez nem tenha dado bola para este lançamento do Prime Video, mas os velhos cinéfilos devem ter ficado curiosos a respeito desse novo filme estrelado por Gérard Depardieu. Se neste século Ricardo Darín tem sido sinônimo de Cinema Argentino, nos anos 80 e 90 Depardieu carregou a França em suas largas costas.

Mas nesse período também desenvolveu uma estranha mania: a de interpretar o máximo de personagens marcantes da ficção de seu país, a partir de Tartufo, de Moliére, em 1984; passando pela sua maior atuação como Cyrano, de Edmond Rostand (que lhe valeu uma indicação ao Oscar), em 1990; o Toussand de Germinal de Zola, em 1993; Porthos (um dos Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas), em O Homem da Máscara de Ferro, em 1998; Edmond Dantes, O Conde de Monte Cristo, numa minissérie do mesmo ano; Obelix, o herói gaulês dos quadrinhos, pela primeira vez em Asterix e Obelix contra César em 1999; Jean Valjean, de Os Miseráveis, em minissérie de 2000; e, finalmente, o personagem criado por Georges Simenon em Maigret e a Jovem Morta, lançado no ano passado.

É o mais famoso detetive da literatura francesa e suas aventuras são mais admiradas pela crítica especializada que a dos muito mais célebres Sherlock Holmes e Hercule Poirot.

Aqui, Maigret – já comissário e não com o posto que o celebrizou, inspetor – investiga o aparecimento do cadáver de uma jovem (Clara Antoons) em um vestido de gala, desovado num logradouro público, coberta de sangue e nenhuma identificação.

Seguindo as pistas ele chega até o quarto que ela alugava num cortiço habitado por garotas pobres que chegam a Paris em busca de um sonho ou vida melhor. No melhor estilo Simenon, o cansado Maigret de Depardieu vai reconstruindo a triste vida da vítima para entender sua morte, e nesse caminho conhece a também jovem Betty (Jade Labeste), que lhe remete não apenas a moça morta, mas sua própria filha.

Aos 74 anos (75 ainda neste dezembro), Gerard Depardieu parece longe da aposentadoria, com diversos projetos em andamento. Mas o tom do filme parece uma despedida, em que diversos pontos de Paris lhe recordam casos antigos, como se o próprio ator revisitasse seus 50 anos de carreira.

Mesmo os pequenos prazeres da vida, como o indefectível cachimbo (não falta a citação de Magritte), lhe são negados pela idade. A cena final (não é spoiler, porque não entrega a solução do crime), com ele se evaporando no cenário, parece um adeus… mas de Maigret ou de Depardieu?

É um bom filme policial do diretor Patrice Leconte (O Marido da Cabeleireira), mas não no estilo de dedução à inglesa, nem de tiroteio à americana. Trata-se de uma digna adaptação de Simenon, com o mais famoso ator francês vivo finalmente interpretando o personagem que faltava à sua coleção.

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