Não restam dúvidas de que o ano cinematográfico foi marcado pelo Barbieheimer, termo criado por que dois dos grandes sucessos do ano, Barbie e Oppenheimer, lançados no mesmo dia. 2023 também foi marcado por uma tendência que já vinha sendo notada nos anos anteriores: a decadência dos filmes de super-heróis, subgênero que vinha dominando o audiovisual na última década.
Homem- Formiga e a Vespa: Quantumania, Shazam! Fúria dos Deuses, The Flash, Besouro Azul e As Marvels floparam de forma espetacular, mesmo que os três últimos não fossem tão ruins – e para alegria dos fãs, Bruna Marquezine ter se saído até bem em sua estreia em Hollywood.
Resta saber se a nova gerência da DC, agora sob comando de James Gunn (Guardiões da Galáxia e Pacificador) e Peter Safran, e o até então incontestável manager do Universo Cinematográfico Marvel, Kevin Feige, conseguirão reverter a maré.
Apesar do estrondoso sucesso, Barbie não deve servir de modelo para outros blockbusters nem começar uma nova franquia, por vários motivos. Primeiro é a especificidade do filme de Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres), que consegue celebrar e ao mesmo desconstruir tudo o que cerca a boneca da Mattel.
Segundo porque as principais envolvidas, a diretora e a estrela Margot Robbie, não estão interessadas em se prender ao universo da personagem. Mas, além de ter lotado as salas e criar uma onda rosa ao redor do mundo, é um belo filme com boas ideias e ótima execução.
Oppenheimer é um caso raro em que um filme sobre física nuclear rendeu uma bilheteria surpreendente, superando outros projetos muito ambiciosos em termos de renda, como Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1.
É o melhor trabalho de Christopher Nolan e Cillian Murphy sai como favorito ao Oscar de Melhor Ator. Agora, se não derem o prêmio de Ator Coadjuvante para Robert Downey Jr., é sacanagem.
Outro favorito da crítica – e meu também – é Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, que novamente foi financiado por uma plataforma de streaming. Só que ao contrário da Netflix com O Irlandês, a Apple TV+ permitiu o lançamento nos cinemas antes, e pudemos assistir a mais uma obra-prima do mestre nova-iorquino em tela grande.
É um de seus melhores trabalhos, reunindo seus dois atores favoritos – Robert De Niro e Leonardo DiCaprio – e revelando a ótima Lily Gladstone, que no Globo de Ouro foi indicada a Melhor Atriz – e não Atriz Coadjuvante como se esperava – em Drama.
Aliás, outra produção financiada pela Apple TV+ foi Napoleão, igualmente lançada antes nas salas de exibição – mas aparentemente, vimos uma obra incompleta. O próprio Ridley Scott afirmou que fez uma versão de duas horas e quarenta minutos para os cinemas, por que é uma metragem suportável pelo público, prometendo um Director’s Cut (coisa que começou com seu Blade Runner) de quatro horas no streaming. Ficou na cara que faltou muita coisa no que vimos há um mês e acho que só poderemos dar um veredito final após o lançamento na Apple.
Falei anteriormente na decadência dos super-heróis, mas dois casos escaparam da desgraça. Guardiões da Galáxia – Volume 3, a despedida de James Gunn da Marvel e da equipe disfuncional liderada por Peter Quill (Chris Pratt), teve um belo arco de origem do Rocket, e a trilogia se encerrou em lágrimas e da mesma forma como se iniciou anos atrás, com música e dancinha.
O outro sucesso de público e crítica foi Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, que, a exemplo do primeiro, é barbada para o Oscar de Animação. Com easter eggs saltando da tela em uma aventura eletrizante, tem como único defeito não ter fim, já que a conclusão só virá daqui a alguns anos, ainda mais depois da longa greve de roteiristas e atores.
Aliás, este também foi um fato que trará consequências para os próximos anos, e não estou falando no atraso nas produções de filmes e séries. A vitória das duas categorias pela justa remuneração por conta do streaming e proteção contra uso abusivo da Inteligência Artificial é importante, mas não permanente. Se há uma regra de ouro do capitalismo é o corte de custos, especialmente com mão de obra.
Flops
Nem só os heróis de quadrinhos sofreram este ano. Como já dissemos, o Ethan Hunt de Tom Cruise não repetiu o êxito de Pete ‘Maverick’ Mitchell no ano passado, apesar da bilheteria acima dos 500 milhões de dólares (o número mágico para essas superproduções é um bilhão).
Mais triste foi Indiana Jones e a Relíquia do Destino, a despedida de Harrison Ford de seu personagem mais icônico. Se como cinema ficou longe do desastre A Caveira de Cristal, foi um enorme flop de bilheteria que nem a franquia, nem o arqueólogo mereciam.
John Wick 4: Baba Yaga, por outro lado, deu tanto dinheiro que corre o risco de deixar de ser uma despedida, como planejado. Mesmo com Keanu Reeves encerrando o filme visivelmente cansado, já se especula a sua volta para uma quinta parte.
Não vou nem comentar Velozes & Furiosos 10, que mantém seu público fiel e Vin Diesel ganhando uma bolada a cada lançamento. Toda a família feliz e com os bolsos cheios. A franquia Os Mercenários, por sua vez, parece ter chegado ao fim da linha neste quarto filme, que naufragou no box office, para surpresa e tristeza de ninguém.
Suspeito que Sylvester Stallone ficou mais triste por ficar de fora de Creed III, com Michael B. Jordan assumindo total controle da marca, do que com o destino de seu Barney Ross. Aliás, se a sequência das história do filho de Apollo Creed não foi uma ‘brastemp’, deu grana o suficiente para que continue numa quarta produção.
E que desperdício o Jonathan Majors, ótimo ator que provavelmente terá sua carreira descontinuada por conta de sua condenação por agressão e assédio sexual.
Brasil
É curioso que a produção audiovisual brasileira tenha se destacado mais nas séries e minisséries que no cinema. Os grandes sucessos foram as cinebiografias Nosso Sonho, de Claudinho e Buchecha, e Mussum – O Filmis, com Mamonas Assassinas estreando agora cercado de altas expectativas.
E mais uma vez ficaremos fora da corrida do Oscar por mais uma escolha equivocada da Academia Brasileira de Cinema, que enviou o Kleber Mendonça Filho errado. Por melhor que seja Retratos Fantasmas, é um documentário muito específico, que dificilmente interessa a quem não seja recifense, ou pelo menos brasileiro.
Bacurau poderia ter sido um concorrente sério em 2020, mesmo concorrendo contra Parasita.
No final das contas, em 2023, entrevistei Ademir da Guia, vi o Palmeiras vencer o mais improvável dos Brasileirões e ainda vi um Beatle ao vivo. Então, como não gostar deste ano?
EU ENTENDI A REFERÊNCIA (o que dissemos sobre as produções aqui citadas):
Review 1 | Barbie, por Bruno Tiozo
Review 2 | Barbie, por Marcos Kimura
Review | Oppenheimer, por Marcos Kimura
Review | Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, por Fábio Alexandre
Review | Shazam: Fúria dos Deuses!, por Fábio Alexandre
Review | Besouro Azul, por Fábio Alexandre
Review | As Marvels, por Marcos Kimura
Review | Assassinos da Lua das Flores, por Marcos Kimura
Review | Napoleão, por Marcos Kimura
Review | Guardiões da Galáxia – Volume 3, por Marcos Kimura
Review | Indiana Jones e a Relíquia do Destino, por Marcos Kimura
Review | John Wick 4: Baba Yaga, por Marcos Kimura
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